GESTAR é a sigla do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar, oferecido pelo MEC como formação continuada em língua portuguesa e matemática aos professores dos anos finais (do sexto ao nono ano) do ensino fundamental em exercício nas escolas públicas.
Foi uma formação de 300 horas, sendo 120 horas presenciais e 180 horas a distância (estudos individuais), em que discutimos questões prático-teóricas e tentamos aperfeiçoar nossa autonomia em sala de aula.
Aqui, o registro de cada um dos nosso encontros, em Afonso Cláudio, Espírito Santo.
06/06/09, de 13h às 17h – Aula inaugural
O encontro teve início com a fala da representante da SER, da coordenadora do Gestar em Afonso Cláudio e do Secretário Municipal de Educação de Afonso Cláudio.
Com o uso de slides, foram dados todos os informes sobre o Gestar II, por mim, de língua portuguesa e pelo professor Pablo, de matemática.
Como Afonso Cláudio é uma superintendência que agrega municípios muito distantes uns dos outros, e o deslocamento se torna oneroso para muitos professores, um grupo significativo de cursistas sugeriu que nos encontrássemos uma vez por mês, fazendo dois encontros a cada sábado.
A superintendência acatou a sugestão a título experimental, sujeita a uma avaliação do rendimento dos encontros e da seriedade no cumprimento do horário.
Encerramos o encontro com música. Ao som de um violão, e acompanhando a letra com um data-show, cantamos Intuição (de Oswaldo Montenegro), Aquarela (de Toquinho e Vinicius) e a paródia de Aquarela, elaborada pela turma de formadores do Gestar II no Espírito Santo.
04/07/09, de 08h às 12h – Encontro 1 (unidade 9)
Muitos dos cursistas, neste dia, estavam vindo pela primeira vez e, portanto, sem conhecer o material. Poucos haviam dado início às leituras e atividades.
Assim, decidimos por fazer o estudo da unidade 9 durante a manhã e da unidade 10 à tarde, para conseguir o envolvimento de um número maior de cursistas
Após essa sondagem inicial da situação de cada um para com o curso, reapresentei os avisos, as regras, enfim, o guia geral do curso.
Em seguida, as duas únicas professoras que haviam dado início às atividades – conforme solicitação da aula inaugural e do blog – fizeram o relato de suas primeiras experiências e compartilharam com todos seu portfolio apenas iniciado.
A partir de então, começamos o estudo dos gêneros textuais, com slides e comentários coletivos.
A primeira atividade foi a elaboração de textos em gêneros diferentes, a partir de texto descritivo sobre uma casa: a casa de Eduardo.
Depois dos textos apresentados, lemos os conceitos presentes no livro, bem como as sugestões de atividades, e encerramos o encontro lendo o texto de Luiz Antônio Marcuschi.
04/07/09, de 13h às 17h – Encontro 2 (unidade 10)
Na parte da tarde, a coordenadora dividiu com os cursistas e formadores a dificuldade que estava encontrando, junto à Sedu, para manter os encontros durante todo o dia de sábado. Muitos cursistas, então, manifestaram sua impossibilidade de continuar o curso, pelo quão dispendioso ele se tornaria, com encontros quinzenais. A coordenadora comprometeu-se a manter o diálogo com a Sedu e voltamos às atividades. Entretanto, durante a tarde, vários de meus cursistas me pediram que entrasse em contato com eles, caso os encontros passassem a ser quinzenais, para que pudessem oficializar sua desistência.
Continuamos, dessa forma, estudando os gêneros, seguindo a unidade 10.
Lemos o poema de Drummond, bem como seu texto sobre as lavadeiras de Moçoró e fizemos a atividade 3.
Depois, lemos o Tango – texto minimalista apresentado em slides – e os cursistas, divididos em grupo, criaram outros textos, dentro do mesmo princípio, cada qual com um ritmo diferente.
Não havia computadores para todos, então, os grupos fizeram suas apresentações com papel, mesmo, explicando suas ideias e levando como tarefa de casa a concretização delas em slides.
Para estudar o gênero poético, sugerido pelo livro, fiz declamação do texto completo de Vinicius de Moraes “O operário em construção”, seguida do canto da música “Construção”, de Chico Buarque. Foi um momento de muita sensibilidade, que inspirou os comentários do grupo e o encerramento, quando tocamos rapidamente na literatura de cordel.
25/07/09, de 08h às 12h – Encontro 3 (unidades 11 e 12)
O encontro começou com os grupos apresentando o resultado final, em slides, dos textos minimalistas que criaram na data anterior. Os ritmos explorados foram: rock, bolero, funk e samba. Foi interessantíssimo. Um espetáculo de cores, som e criatividade.
Em seguida, iniciamos os comentários sobre os estudos feitos em casa. Houve poucos, o que se configurou como um sinal de que ou não houve estudo em casa, ou o material está todo muito claro.
Passamos, então, aos relatos do que foi posto em prática nas escolas. Ao contrário da expectativa, pouquíssimas pessoas se manifestaram: foram três relatos completos e dois de atividades que ainda não haviam sido concluídas. A turma admitiu que não teve condições de realizar nenhuma atividade na escola. Parece que o fechamento do 2º bimestre e o recesso escolar foram a explicação mais palpável.
Entretanto, um dos portfolios apresentados nos deixou impressionados. A partir dos textos sugeridos no encontro anterior (“O Operário em Construção” e “Construção”) uma professora realizou uma atividade com suas turmas, sobre o tema “trabalho”. O que nos impressionou foi a quantidade de textos que ela utilizou para isso. Como forma de ampliar ao máximo o alcance de visão de seus alunos ela incluiu fábulas, contos, artigos e outros tantos gêneros para a leitura de seus alunos e o desenvolvimento do projeto. Seu relato circulou entre o grupo, servindo de ânimo e motivação para todos.
Dessa forma, passamos às atividades previstas para a oficina.
Primeiramente, houve uma breve introdução dos assuntos das unidades 11 e 12, a título de apanhado geral de leitura. Fizemos a seguir a atividade 4 da unidade 12 sobre trecho de crônica de Luiz Fernando Verissimo. Discutimos as respostas e foi muito interessante a conclusão de que a nomeação das sequências num texto não é exata, bem como os comentários sobre como explorar esse tipo de atividade em sala de aula.
Depois disso, num momento de prazer, lemos os depoimentos de Luiz Vilela e de Lygia Fagundes Telles sobre o ato de escrever, com os devidos comentários dos participantes.
E para encerrar o encontro, a atividade seguinte baseou-se no exemplo dado no início da unidade 12, a saber, o cartão postal e a carta de solicitação, escritos pela mesma pessoa em situações diferentes. Fizemos assim a atividade 7, na página 161, elaborando textos diferentes – porque o suporte é diferente – para tratar do mesmo assunto, com a mesma pessoa. A apresentação dos textos foi um momento de descontração, e saímos para o almoço.
25/07/09, de 13h às 17h – Encontro 4 (unidades 13 e 14)
Como na parte da manhã, já havíamos esgotado os relatos do “Avançando na Prática”, iniciamos o encontro com a reflexão sobre as práticas de escrita de cada um, proposta na atividade 1 da unidade 11. Ligamos nossos depoimentos aos de Patativa do Assaré e Paulo Freire e discutimos o conceito de letramento.
Para nos animar, pelo horário logo depois do almoço, cantamos a música Baião, de Luiz Gonzaga, e nos dividimos em grupo para realizar a atividade seguinte: planejar brevemente uma aula, utilizando o texto indicado para preparar os alunos para a escrita; transcrever as habilidades que serão enfatizadas na aula. Esse planejamento foi feito a partir da escolha de um dos seguintes textos:
Baião – música de Luiz Gonzaga
Soy loco por ti, America – Cartaz do Brasilia Shopping
Você lembra, pai? – texto de D. Munduruku
Herança africana – artigo da Folhinha de São Paulo
Nossas Cidades – texto de L. Lobo
Cidadezinha qualquer – poema de C. D. Andrade
Findo o tempo estipulado, cada grupo apresentou sua aula. As ideias foram excelentes, bem criativas, nada monótonas e, embora alguns grupos tenham escolhido o mesmo texto, não houve coincidências de procedimentos metodológicos.
A discussão foi, em certo momento, acalorada pelo comentário angustiado de um dos cursistas. Ele disse: “Tudo isso é muito bonito, muito bonito, mesmo. Mas nossa realidade nessas escolas de interior é muito dura. Nossos alunos deixam a escola por causa do trabalho duro na roça. E estudar a gramática ainda é importante, sim, porque ela é cobrada nos concursos.”
Esperei que todas as aulas fossem apresentadas e reiterei a necessidade de olharmos além dos problemas. É preciso canalizarmos nossas energia para a busca de soluções! Comprometi-me a levar para o próximo encontro questões de português presentes nos concursos atuais, para ilustrar o quanto o uso da língua tem sido muito mais importante do que o conhecimento gramatical e citei o escritor Érico Verissimo, para lembrar que é nosso papel manter acesa nossa luz.
A tarde chegava ao fim e comentamos coletivamente a atividade 3 da unidade 14, para lembrar que as interpretações são abertas, mas que nem tudo é aceitável; indo depois para o texto “A cidade”, de Millôr Fernandes, para falar sobre a importância do conhecimento prévio.
A última atividade foi uma avaliação escrita do encontro e do curso como um todo.
Encontros 5 e 6 – Afonso Cláudio
22 de agosto de 2009
MANHÃ – UNIDADES 15 e 16
No encontro anterior, eu havia avisado que assistiríamos ao filme “Narradores de Javé” na data de hoje, e perguntei se preferiam fazer isso pela manhã ou à tarde. A maioria preferiu a tarde, então eu planejei cumprir as unidades 15, 16 e 17 nesta manhã. Mas não foi possível, como se verá. Eu tinha também algumas questões de provas de concurso para nível médio. Eu tinha me comprometido a apresentá-las, devido à fala pessimista de um cursista no encontro passado. Nesta data, entretanto, ele não estava presente, e eu, então, protelei essa discussão para o próximo encontro.
Iniciamos o encontro às 8:15h, com comentários e observações sobre o que se estudou em casa.
Às 8:30h, demos início aos relatos de experiências com as atividades intituladas Avançando na Prática. Diferentemente da primeira parte, todos quiseram falar, contando o que fizeram. Alguns demonstraram bastante entusiasmo pelos resultados, o que levou outros colegas a expor suas angústias. As realidades são muito diversas: escolas nada flexíveis quanto ao cumprimento do programa; turmas desmotivadas, cortejando a evasão; uma turma de sétima série tem nove alunos, e são todos rapazes; outra tem alunos de 18 a 29 anos, dentre os quais alguns são semialfabetizados. Há também professoras usando as atividades com o Ensino Médio, e outras poucas com as séries iniciais.
Recomendei que as atividades fossem adaptadas para cada realidade. Às vezes será necessário utilizar textos diferentes dos propostos nos TPs, com assuntos mais relacionados aos interesses e à realidade de cada turma.
Quanto ao programa, lembrei-lhes que os conteúdos em Língua Portuguesa não precisam seguir uma sequência linear. Assim, é possível incluí-los nas atividades propostas pelo Gestar, ao invés de considerar estas últimas como mais uma meta a cumprir em sala de aula.
Foi um momento muito rico, em que os cursistas puderam aprender uns com os outros, e em que eu também pude dividir com eles um pouco do muito que experimentei e aprendi, em mais de vinte anos de docência.
Foi rico, mas também foi demorado. Eu não quis interromper, porque foi a primeira vez em que a turma mostrou-se tão entusiasmada para compartilhar. Quando não havia mais ninguém com vontade de falar, eu compartilhei com a turma a minha preocupação com o nosso atraso, a avaliação positiva que eu fazia daquele momento e sugeri que, nas próximas vezes, cada um selecione – da sua experiência – aquilo que pode contribuir para a discussão, a reflexão e o crescimento do grupo, evitando relatos que visem apenas à comprovação do cumprimento das tarefas. Essa comprovação vai se dar, de qualquer forma, por meio da entrega dos relatórios que comporão o portfolio de cada um.
Às 10 horas, saímos para um rápido café e, às 10:15h, utilizando slides, iniciamos nossa conversa sobre os objetivos da unidade 15 e sua teoria, e partimos para a leitura do texto “Admirável Mundo Louco”, de Raquel de Queiroz, fazendo os comentários precedentes.
A atividade que propus foi a classificação das perguntas apresentadas sobre o texto e a discussão da pertinência da atividade 9a.
Às 11horas, também com slides, passamos para a unidade 16, e realizamos em grupo a leitura dos textos de Gabriel, o Pensador; Leo Cunha; Lygia Fagundes Telles; Lygia Bojunga Nunes, bem como o texto teórico da página 165 do TP4, que trata das crenças sobre a produção escrita. A discussão seguinte foi: “Em qual dessas crenças eu me encaixo?” Durante as falas dos participantes, foi levantada a necessidade de a escola oferecer situações diversas para a produção de textos, que se aproximem das necessidades sociais.
Então, correndo contra o tempo, às 11:45h lemos o texto e as questões propostas pela atividade 7, na página 185 (Profetas do sertão miram horizonte para farejar chuva).
Em seguida, com um pequeno atraso, saímos para o almoço.
TARDE – UNIDADE 17
Narradores de Javé é um filme muito interessante, mas a maioria de nós só consegue levantar questões educativas e sociais numa segunda vez que assiste a um filme – qualquer que seja ele. Assim, seguindo o caminho inverso, fizemos, antes do filme, a leitura da resenha de Antônio Gil Neto, e cantamos o poema de Ferreira Gullar, “Traduzir-se”, às 13:10h.
13:30h, exibição do filme “Narradores de Javé”.
O filme foi um sucesso. Tecemos comentários gerais sobre ele e depois levantamos algumas possibilidades pedagógicas.
Às 15:40h demos início à unidade 17. Dividimos os personagens para a leitura do texto “cada um é cada um”, da Folha de São Paulo, pág. 15 do TP5.
Discutimos, em seguida, aspectos relacionados à repetição e lemos os textos das páginas 29 (Berimbau) e 32 (indo à sala de aula).
A atividade seguinte foi muito interessante: a produção, em grupo, de um texto com palavras pouco comuns (muxuango, hermeneuta, vituperado, defenestração, perfunctório, falácia, ignóbil, sibilino, uxoricídio e apoplexia). Socializamos as produções, lemos os texto “Palavras são palavras” (p. 36) e levantamos variações possíveis de uso da atividade na escola.
A tarde chegava ao final, e encerramos o encontro identificando as ocorrências de discurso indireto livre no texto “Nunca é tarde, sempre é tarde” (p. 43).
Encontros 7 e 8 – Afonso Cláudio
12 de setembro de 2009
MANHÃ – UNIDADES 18 e 19
Demos início aos trabalhos do dia, cantando, para elevar os ânimos e nos deixar contagiar pela beleza do poema de Catulo da Paixão Cearense – Luar do Sertão.
A partir daí começaram os relatos das atividades realizadas nas escolas. A esta altura, percebi que a ansiedade tem diminuído nos cursistas, e os relatos se apresentam mais seguros, menos pela necessidade de desabafo e mais pelo desejo de aprender coletivamente. Durante as falas fiz perguntas relacionadas aos resultados percebidos pelas professoras e professores, por observação, e vários colegas teceram comentários paralelos.
Retomei, então, a necessidade de elaboração e execução do projeto pedagógico na escola. Muitos já nem se lembravam disso, e foram muitas as dúvidas (especialmente quanto ao prazo para execução e a vida profissional dos professores temporários). Ao final dessa parte, entretanto, todos já pareciam ter em mente seu futuro projeto.
Às 9:30 h, demos início, então, aos estudos de coerência textual, apresentados no TP 5, unidade 18. Lemos, em slide, o texto “Coisas típicas do Brasil”, construído só com substantivos, e conversamos sobre sua informatividade, sua coerência e sua falta de coesão. A próxima leitura foi o próprio “Circuito Fechado”, de Ricardo Ramos, e passamos à elaboração de nossos próprios textos, em pequenos grupos.
Depois de um breve intervalo para o café, às 10:30 realizamos a divertida socialização dessas produções e, para concluir, voltamos ao TP 5 para levantar elementos teóricos relacionados aos textos que acabáramos de produzir.
Partimos, então, para a unidade 19, conversamos sobre seus objetivos e principais assuntos e, como primeira atividade, usamos o próprio TP, seguindo as perguntas feitas para o Luar do Sertão (na página 140).
Discutimos nossas respostas e fizemos juntos, discutindo enquanto respondíamos, a atividade 10, muito interessante para nos mostrar que perguntas fazer a nossos alunos com o intuito de que percebam os elos coesivos nos textos que lêem e escrevem.
Concluímos a atividade e saímos para o almoço.
TARDE – UNIDADES 19 E 20
Aos voltarmos do almoço, às 13 horas, propus que realizássemos uma adaptação da atividade sugerida no “Avançando na prática” da página 162, neste mesmo TP. Assim, expus uma gravura em slide (prédios, andaimes, guindastes e operários urbanos trabalhando), distribuí papeletas e apresentei 5 perguntas que cada qual deveria responder em papéis separados. Com música de fundo os cursistas começaram a escrever e foram depositando suas respostas em caixinhas separadas por pergunta.
No passo seguinte, os papéis foram distribuídos para que cada um elaborasse o texto inteiro, utilizando os recursos coesivos necessários.
Eu fiz a leitura de quase todos os textos, enquanto escreviam e pude colaborar na identificação de falhas na coesão.
Pedi, em seguida, que cada um dissesse que recurso coesivo utilizou em seu texto, podendo, para isso, voltar ao TP e consultar a teoria.
Essa parte gerou um pouco mais de dificuldade, mas foi muito positivo debruçar nossa análise sobre o que nós mesmos fazemos.
Alguns voluntários, ao final, fizeram a leitura de seus textos e dos comentários pessoais sobre a teoria.
Às 14:30h demos início à atividade 15, na página 156 do TP 5, cantando a música dos Tribalistas, texto base da atividade. Após repetir a música (a turma gostou dela!), tivemos um tempo para respondermos às questões propostas, antes de discuti-las.
Partimos, em seguida, para a unidade 20, conversando sobre seus objetivos e levantando seus principais assuntos. Fizemos, então, a montagem do texto “uma história sem pé nem cabeça” – texto fatiado com espaços para numeração. A socialização dos resultados foi muito interessante, pois havia quatro hipóteses diferentes, e pudemos discutir o que permitia ou impedia que tal ou qual trecho se encaixasse em determinado lugar. Para completar as discussões comparamos o que fizemos com a proposta do “Avançando na prática” da página 196. Com ela, mesmo sem estar com o texto repartido, também discutimos que elementos de coesão impedem que determinados trechos mudem de lugar. Foi bem positivo.
Então pulamos para a atividade 1: o joguinho dos nós. Enquanto os cursistas tentavam decifrar a resposta, eu lhes perguntava que processo mental eles usavam para chegar à conclusão em que chegavam. Então revisitamos toda a teoria de coerência, de coesão e de lógica (assunto desta unidade).
Nossa última atividade foi oral: a questão da letra “e”, da atividade 4, na página 186. Conversamos então sobre a riqueza dessa atividade para ajudar nossos alunos a compreender o sentido dos verbos que se apresentam no pretérito mais que perfeito. Os professores confirmaram essa dificuldade com exemplos de suas classes e eu reiterei a importância de atividades como esta.
A tarde chegava ao final e, após uma rápida avaliação do encontro, nos despedimos mais uma vez.
Encontros 9 e 10 – Afonso Cláudio
24 de outubro de 2009
MANHÃ – UNIDADE 20
A primeira atividade da manhã, às 8:20h foi a troca, o compartilhamento do que tem sido feito nas escolas. Eu também compartilhei como foi a segunda etapa da minha própria formação, em Vitória, que havia acontecido há alguns dias.
Expliquei também que podíamos encaminhar os trabalhos com mais calma, sem perseguir a meta de sempre duas unidades em cada encontro – uma vez que um dos pontos negativos apresentados numa avaliação tinha sido justamente o ritmo do estudo – pois o número de encontros será suficiente para que nos aprofundemos nas questões que considerarmos mais prementes.
Foi justamente o caso da coesão e da coerência.
Retomamos esse tema com a realização de uma proposta de produção de texto coletivo em etapas, que eu havia elaborado para uso em sala de aula há alguns anos. Cada cursista recebeu, num papel, a orientação para elaborar um texto de, pelo menos, 10 linhas, criando um evento inusitado na vida de uma pessoa adulta cujo nome eu já defini (1º caso) ou descrevendo esse mesmo personagem. Explicando melhor: a pessoa de número 1 deve narrar um acontecimento inesperado na vida de João, por exemplo. O número 2, sem saber o que faz o número 1, deve descrever João, física, psicológica e emocionalmente. Os números 3 e 4 farão o mesmo, só que com personagens femininas. Quando seus textos estiverem prontos, cada um é orientado a procurar o número que completa o texto de seu próprio personagem. Assim, 1 e 2 se encontram e devem reunir seus textos. O mesmo para 3 e 4. Depois, essas duas duplas também devem se reunir e escrever o último texto, que será a reunião de tudo o que produziram, gerando um encontro entre os dois personagens: o homem e a mulher. Vejamos o esquema:
O texto final, então, foi produzido por quatro pessoas – embora no início cada qual começasse a escrever sozinho, de acordo com a tarefa que recebeu. Vamos conferir as orientações:
Nº 01
1ª atividade
Você vai criar, agora, um momento na vida de um personagem. Pegue seu caderno e escreva. Seu personagem é um homem adulto que se chama Abelardo. O que você deve fazer é contar o dia em que ele viveu algo muito interessante na rua. É preciso que seja um fato estranho e inesperado, totalmente incomum. Resolva também em que dia da semana isso aconteceu e a que horas. Para essa narração você deve gastar, no mínimo, 10 linhas.
2ª atividade
Quando você terminar a 1ª atividade, deve procurar o número 02. Depois, vocês dois (ou duas) devem ir até o envelope B e pegar o próximo passo (apenas um papelzinho para duas pessoas).
Nº 02
1ª atividade
Você vai criar, agora, um personagem. Pegue seu caderno e escreva. Seu personagem é um homem adulto que se chama Abelardo. O que você deve fazer é dar-lhe vida: como ele é fisicamente? Como é sua personalidade? Do que ele gosta? O que faz no seu dia-a-dia? Para criar esse personagem, você deve escrever, pelo menos, 10 linhas.
2ª atividade
Quando você terminar a 1ª atividade, deve procurar o número 01. Depois, vocês dois (ou duas) devem ir até o envelope B e pegar o próximo passo (apenas um papelzinho para duas pessoas).
Nº 03
1ª atividade
Você vai criar, agora, um momento na vida de um personagem. Pegue seu caderno e escreva. Seu personagem é uma mulher adulta que se chama Rosalina. O que você deve fazer é contar o dia em que ela viveu algo muito interessante na rua. É preciso que seja um fato estranho e inesperado, totalmente incomum. Resolva também em que dia da semana isso aconteceu e a que horas. Para essa narração você deve gastar, no mínimo, 10 linhas.
2ª atividade
Quando você terminar a 1ª atividade, deve procurar o número 04. Depois, vocês dois (ou duas) devem ir até o envelope B e pegar o próximo passo (apenas um papelzinho para duas pessoas).
Nº 04
1ª atividade
Você vai criar, agora, um personagem. Pegue seu caderno e escreva. Seu personagem é uma mulher adulta que se chama Rosalina. O que você deve fazer é dar-lhe vida: como ela é fisicamente? Como é sua personalidade? Do que ela gosta? O que faz no seu dia-a-dia? Para criar esse personagem, você deve escrever, pelo menos, 10 linhas.
2ª atividade
Quando você terminar a 1ª atividade, deve procurar o número 03. Depois, vocês dois (ou duas) devem ir até o envelope B e pegar o próximo passo (apenas um papelzinho para duas pessoas).
[no envelope B, o próximo passo é o seguinte:]
B 1 e 2
1ª atividade
Agora, vocês vão juntar seus dois textos e fazer um só. Para isso, talvez seja necessário escrever um pouco mais. Pode ser também que alguns trechos tenham que ser substituídos, modificados. Agora, é proibido jogar qualquer pedaço fora sem pôr nada no lugar, tá? Mãos à obra!
2ª atividade
Agora que seus dois textos são um só, vocês vão procurar os nos 3 e 4 e, depois, vão ao envelope C pegar o próximo passo (um papelzinho para os quatro).
B 3 e 4
1ª atividade
Agora, vocês vão juntar seus dois textos e fazer um só. Para isso, talvez seja necessário escrever um pouco mais. Pode ser também que alguns trechos tenham que ser substituídos, modificados. Agora, é proibido jogar qualquer pedaço fora sem pôr nada no lugar, tá? Mãos à obra!
2ª atividade
Agora que seus dois textos são um só, vocês vão procurar os nos 1 e 2 e, depois, vão ao envelope C pegar o próximo passo (um papelzinho para os quatro).
[e finalmente, no envelope C:]
Vocês quatro devem, agora, unir novamente dois textos. Um dos textos tem um personagem masculino e, o outro, um personagem feminino, não é isso? Então, vocês vão fazer com que os dois se encontrem numa trama amorosa. Se vão ficar juntos, se o amor vai virar ódio ou se os dois serão apenas bons amigos no final, isso é com vocês. Para esta etapa, vale a mesma regra da etapa anterior, ou seja, podem acrescentar ideias, substituir, mas não podem jogar nada fora, de graça. E quando tudo estiver pronto, não se esqueçam de fazer uma cuidadosa revisão. Estou ansiosa para ver o resultado!
Enquanto o texto individual era produzido, fui lendo e orientando os projetos pedagógicos já elaborados.
É claro que foi uma atividade demorada, mas todos ficaram tão envolvidos e interessados em poder fazer o mesmo em suas respectivas salas de aula, que o tempo gasto foi bem aproveitado. O intervalo foi fragmentado, por isso: cada grupo interrompia o trabalho num ponto e depois continuava.
Depois de tudo pronto, ouvimos os textos produzidos e comentamos sobre o quanto cada qual ficou coeso. Houve também comentários sobre o grau de dificuldade que a atividade pode representar para a escola básica.
Os relógios já marcavam 11:30h, e encerramos a parte da manhã com uma atividade rápida, também para exercitar a coesão e a coerência. Cada qual recebeu a metade de uma frase. Depois, um a um, os que receberam as primeiras metades iniciavam a leitura oral de seu trecho e aguardavam que um colega o completasse. É claro que quem estava com as segundas metades é que enfrentava o desafio de saber onde se encaixar. Porém, como professores que somos, todos acertaram, e pudemos, a cada frase, destacar que elemento da primeira metade serviu de dica para a segunda. Vejamos um exemplo:
O prazer dos banquetes não está nos pratos, mas sim
nas pessoas que nos acompanham à mesa.
Foi bem divertido. Encerramos assim a parte da manhã e saímos para o almoço.
TARDE – UNIDADES 20 e 21
No início da tarde, retomamos o tema da unidade 20, enumerando as relações lógicas que costumam sustentar a coesão e a coerência nos textos.
Fizemos as atividades 6, 8, 11, 15, 17, 18 e 21, sempre comentando as possibilidades que elas ofereceriam quando usadas na escola básica.
Comentamos também a importância das atividades 18, 19, 22 para a educação básica.
Para finalizar essa unidade, realizamos uma atividade proposta pelo AAA 5, sobre o estabelecimento de coerência pelo uso de ideias absurdas. O texto base foi a música “Te ver” da banda Skank.
Ao encerrarmos a verificação dessa atividade, lembrei à turma que coesão e coerência serão temas sempre recorrentes em nossos próximos estudos.
Demos, então, início ao estudo da argumentação, na unidade 21. A turma ficou um momento relendo silenciosamente a unidade, para identifica ar mascas de argumentatividade que dão nome ao texto.
O conceito de tese foi exaustivamente discutido e partimos em seguida para a produção de um texto argumentativo.
O mote para esse texto foi a música “A força que nunca seca”, de Chico César e Vanessa da Mata (a letra e o vídeo estão postados em nosso blog: gestportafonsoclaudio.blogspot.com). Eu cantei a música e, simultaneamente, apresentei em slides uma sequência de fotos relacionadas à seca, à pobreza e à fome.
Finda a apresentação, às 15:30h, cada pessoa ou dupla elaborou um texto argumentativo. Quando já tinham começado a escrever, distribuí pequenas fichas de papel contendo um conectivo cada uma. Cada pessoa ou dupla deveria usar dois deles em seu texto (como exemplo de atividade a ser realizada na escola básica, é claro, uma vez que costumamos usar muitos outros conectivos além dos sugeridos).
Às 16:10h, ainda com algumas pessoas escrevendo, falei do que pretendo fazer com aquele texto no próximo encontro, e dos próximos temas. Em seguida fizemos a avaliação oral do dia e nos despedimos às 16:30h (no turno da tarde, combinamos de ficar sem intervalo para o lanche e sair um pouco mais cedo).
Encontros 11 e 12 – Afonso Cláudio
14 de novembro de 2009
MANHÃ – UNIDADE 21
O dia começou com relatos. Eu me queixei de não ter recebido por e-mail nenhum material referente a como trabalhar a literatura na escola e todos começaram a contar os interessantes trabalhos que já desenvolveram na escola, antes mesmo do Gestar. Parece que a comunicação eletrônica ainda é uma dificuldade. Ou a dificuldade é de registro do que se faz, uma vez que todos têm o que contar, mas talvez não tenham escrito nada. O fato é que eu fiquei entusiasmada com os relatos e pedi mais uma vez que todos fizessem o registro e me enviassem por e-mail – ou, se isso não fosse possível, levasse pra mim no próximo encontro.
Começamos em seguida a rever as características do texto dissertativo. Fizemos um exercício de identificação de pressupostos e um outro relacionado à macroestrutura de um texto dissertativo. O grupo gostou muito dessa abordagem e solicitou que eu enviasse o material para que eles pudessem também utilizar, tanto como professores, como produtores de textos.
O passo seguinte foi acompanhar a Unidade 21, discutindo as estratégias de argumentação apresentadas. Foi muito discutida, também a diferença entre persuasão e convencimento.
TARDE – UNIDADE 21 e 22
Quando voltamos do almoço, discutimos alguns dos defeitos de argumentação apresentados na Unidade 21. Depois, seguindo sugestão feita em avaliações anteriores, fizemos uma dinâmica para espantar o sono de depois do almoço: espalhei peças de quebra-cabeças no chão, todas misturadas, para que cada um pegasse duas ou três, e depois identificasse o lugar de suas peças. No total foram montadas sete figuras e os cursistas dividiram-se em torno delas. O próximo passo foi virar as figuras com o verso para cima. Lá havia uma parte de um texto. O desafio agora era ler o texto partido e depois conversar com os demais grupos para identificar as partes complementares. Eram dois textos. Um partido em três partes, outro partido em quatro. Com os textos já inteiros e em ordem, a turma ficou dividida em dois, e cada grupo contou ao outro o assunto central de seu texto, para em seguida, abrirmos uma discussão sobre as ideias. Um dos textos era uma resenha de André Gazola sobre o livro de Marisa Lajolo: Literatura: leitores e leitura. O outro texto era um artigo de Renata Junqueira de Souza intitulado “A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens”.
Ninguém mais com sono, iniciamos uma reflexão sobre o planejamento da escrita, realizando a atividade 1 da Unidade 22. Foi um momento de muita participação, depois do qual passamos a escrever. Eu propus que fizéssemos o item 2 da atividade 3 (Escreva um texto sobre a sua história como educador(a), como surgiu a motivação, como se sentiu e argumentou, justificando as suas escolhas. Vamos, porém, antes de escrever o texto em si, planejá-lo), e que o apresentássemos em dois textos: um contando a história pedida pelo enunciado; outro, contando como esse texto foi escrito. Nossa meta é publicar todos esses textos em nosso blog.
Os ritmos, é claro, são muito diferentes. Assim, quando começamos a avaliação do encontro, às 16:15h, poucos já haviam terminado a atividade.
Eu, de minha parte, considerei o encontro muito lento. O grupo, ao contrário, achou que foi o melhor encontro.
Acho que devo rever minha noção de ritmo.
TEXTOS COMPLEMENTARES:
A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens
Renata Junqueira de Souza
A infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua emancipação mediante a função liberatória da palavra. É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura. O estudioso Richard Bamberger reforça a ideia de que é importante habituar a criança às palavras. "Se conseguirmos fazer com que a criança tenha sistematicamente uma experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo o seu desenvolvimento como ser humano."
Inúmeros pesquisadores têm-se empenhado em mostrar aos pais e professores a importância de se incluir o livro no dia-a-dia da criança. Bamberger afirma que, comparada ao cinema, ao rádio e à televisão, a leitura tem vantagens únicas. Em vez de precisar escolher entre uma variedade limitada, posta à sua disposição por cortesia do patrocinador comercial, ou entre os filmes disponíveis no momento, o leitor pode escolher entre os melhores escritos do presente e do passado. Lê onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada, podendo retardar ou apressar a leitura; interrompê-la, reler ou parar para refletir, a seu bel-prazer. Lê o que, quando, onde e como bem entender.
Essa flexibilidade garante o interesse continuo pela leitura, tanto em relação à educação quanto ao entretenimento.
A professora e autora Maria Helena Martins chama a atenção para um contato sensorial com o objeto livro, que, segundo ela, revela "um prazer singular" na criança. Na leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. A autora comenta que “esse jogo com o universo escondido no livro “pode estimular no pequeno leitor a descoberta e o aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo”“.
Esses primeiros contatos despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização. A possibilidade de que essa experiência sensorial ocorra será maior quanto mais frequente for o contato da criança com o livro.
Às crianças brasileiras, o acesso ao livro é dificultado por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. São raras as bibliotecas escolares. As existentes não dispõem de um acervo adequado, e/ou de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável e propício com os livros.
Mais raras ainda são as bibliotecas domésticas. Os pais, quando se interessam em comprar livros, muitas vezes os escolhem pela capa por falta de uma orientação direcionada às preferências das crianças.
É de extrema importância para os pais e educadores discutir o que é leitura, a importância do livro no processo de formação do leitor, bem como, o ensino da literatura infantil como processo para o desenvolvimento do leitor crítico.
Podemos tomar as orientações da professora Regina Zilberman, estudiosa em literatura infanto-juvenil e leitura, como forma de motivarmos as crianças e os jovens ao hábito de ler: abordar as relações entre a literatura e ensino legitimando a função da leitura, sugerindo livros, assim como atividades didáticas, a fim de alcançar o uso da obra literária em sala de aula e nas suas casas com objetivos cognitivos, e não apenas pedagógicos; considerar o confronto entre a criação para crianças e o livro didático, tornando o último passível de uma visão crítica e o primeiro ponto de partida para a consideração dos interesses do leitor e da importância da leitura como desencadeadora de uma postura reflexiva perante a realidade.
Assim, com relação à leitura e à literatura infantil, pais e professores devem explorar a função educacional do texto literário: ficção e poesia por meio da seleção e análise de livros infantis; do desenvolvimento do lúdico e do domínio da linguagem; do trabalho com projetos de literatura infantil em sala de aula, utilizando as histórias infantis como caminho para o ensino multidisciplinar.
Estratégias para o uso de textos infantis no aprendizado da leitura, interpretação e produção de textos também são exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. Somente desta forma, transformaremos o Brasil num país de leitores.
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Literatura: leitores & leitura, de Marisa Lajolo
Resenha de André Gazola
Eu já tinha decido antes de terminar o semestre: nas férias, eu ia dar um tempo nas leituras, e ler um pouco mais.
Acabei agora pouco de ler esse simpático livrinho da famosa professora da UNICAMP. A surpresa é que ele conseguiu fazer uma confusão tremenda com o conceito que eu tinha de literatura.
Explico. Através de 15 capítulos de conversa direta com o leitor e análise de alguns períodos históricos, juntamente com as diversas formas de literatura que os acompanharam, Marisa questiona aquela visão erudita do conceito de literatura: apenas livros; apenas clássicos; apenas autores “bons”.
Ela pretende, através da amostra de exemplos literários de 25 séculos, desde Platão e Aristóteles até o mais novo best-seller, mostrar que a literatura não pode ser definida, ou melhor, pode sim, mas somente pelo próprio leitor, individualmente e naquele instante da sua vida.
Com uma linguagem muito leve, beirando, muitas vezes, um papo entre adolescentes, a autora utiliza trechos de músicas, poemas, obras, pichações, cantigas e histórias populares conhecidas para ilustrar que literatura é tudo isso, não apenas aquilo que os círculos acadêmicos preconceituosos vivem nos dizendo.
Ser ou não ser literatura é assunto que se altera com o tempo e desperta paixões.
Até um conceito que é ensinado nas escolas e inclusive na faculdade é desmentido pela autora:
Não é o uso da linguagem que define sua literariedade, mas a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação de leitura.
Não se pode falar em distinções rígidas e pré-estabelecidas entre linguagem literária, e, por exemplo, linguagem coloquial. O que torna qualquer linguagem literária ou não, é a situação de uso.
Qualquer um que já tenha estudado um pouco de literatura sabe que aí está uma revolução considerável nas bases da teoria literária ensinada nas escolas.
Além de tudo isso, há uma análise da literatura do séc. XX e XXI, coisa que eu não tinha visto em livros ainda. Basicamente, sobre a produção literária atual, diz-se o seguinte:
* ocorreu uma globalização da literatura. Nunca fomos tão traduzidos e nunca traduzimos tanto (lembre-se, novelas de TV também são consideradas literatura);
* devido ao aumento do mercado, há literatura de todas as identidades: infantil, de autoria feminina, negra, indígena, homossexual (elas sempre existiram, mas agora adquiriram seu espaço, foram desmarginalizadas);
* assim, há a expansão e democratização do conceito de literatura;
* a literatura do séc. XXI é marcada pela metalinguagem e pela intertextualidade.
Pra terminar, uma frase de Fernando Pessoa que ilustra muito bem a ideia da obra, de que não apenas livros devem ser considerados literatura:
“Livros nada mais são do que papéis pintados com tinta.”
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A MORTE PAGA MAIS
Rubem Alves
Quem teve o nariz treinado para sentir o cheiro das coisas sagradas espanta-se sempre com aquele indisfarçável odor de coisas religiosas que se desprende dos gestos e das falas dos festivais da Ciência. Ali há lugar para os mais variados gostos litúrgicos, desde os sacerdotes do saber, em seus momentos mais solenes, vestes talares multicoloridas, até as "ordens mendicantes", avessas às cores e perfumes oficiais, e identificadas por roupas e gestos diferentes, em ambos os casos, símbolos de realidades invisíveis aos olhos dos não iniciados. Os rituais esotéricos são sucedidos pelas celebrações da "religiosidade popular", em que o corpo sacerdotal, Teólogos, Profetas e Ordens de todos os tipos se misturam com os neófitos, na mesma explosão de entusiasmo científico, atmosfera de romaria, em que o que está em jogo não é a verdade fria das galáxias ou células, mas um certo fervor que faz com que todos se reconheçam como membros de uma mesma procissão de saber...
São as celebrações rituais dos mitos inaugurais da Ciência. E se a coisa tem o jeito de religião é porque a Ciência começou como uma nova religião, em que uma classe sacerdotal de roupa preta foi derrotada por uma classe sacerdotal de roupa branca. O que se pretendia não era o fim da religião, mas uma religião melhor; não o ateísmo, mas uma contemplação mais direta dos mistérios da divindade.
Parece, por exemplo, que este foi o caso de Copérnico, que colocou o Sol no centro dos planetas, em lugar da Terra, não movido pelo peso das evidências empíricas, mas comovido pelos argumentos da estética e da elegância geométricas: Deus, geômetra/esteta, não poderia ter feito um sistema de astros tão feio e de pé quebrado como aquele de Ptolomeu. Com o Sol no centro fica tudo mais bonito e é até mais fácil louvar a Deus, pois a alma fica mais leve e feliz quando o Universo fica mais fácil de se compreender. Coisa semelhante aconteceu com Kepler, que se pôs a procurar as leis que regiam o movimento dos planetas. Não é que ele se interessasse por precisões matemáticas. Acontece que ele desejava ouvir as melodias que o Todo-Poderoso, músico dos músicos, havia colocado no espaço. E ele sabia que pela mediação dos números era possível chegar até os sons. E até deu o nome de Harmonia dos Mundos ao seu livro, o que o coloca mais na biblioteca dos músicos que na dos físicos, pois harmonia tem a ver com notas e acordes...
A Ciência começou como coisa alegre e bonita. Daí o deslumbramento que produziu. Mas esses primeiros cientistas eram precursores modestos de prodígios ainda por vir. Nem de longe imaginavam que as coisas que diziam sobre os céus poderiam, um dia, fazer diferença sobre a terra...
Mas logo a alegria aumentou. Ao prazer da contemplação se juntou a volúpia da magia. O jeito novo de ver virou jeito novo de fazer. Das equações matemáticas começaram a saltar máquinas. E se percebeu que a Ciência fazia bem não apenas para a cabeça mas também para o corpo. Uma máquina é um braço que deixa descansar o braço. Sobraria mais tempo para o prazer. E a Ciência apareceu como o deus encarnado: poder para transformar os desejos em realidade. Os céus baixam à terra. O paraíso sai do passado e se coloca no futuro. "Não importa o que a princípio tenha sido", dizia Priestley. "O fim será glorioso e paradisíaco... Os homens prolongarão os dias de suas vidas e ficarão cada vez mais felizes..." Completa-se a transformação teológica. A Salvação é possível. Os homens podem ser felizes. Não pelo poder dos Sacramentos mas pela expansão do saber. E aquilo que a religião velha colocava depois da morte, a Ciência trouxe para a vida, só que um pouquinho para o futuro... Nas palavras de Diderot, "a posteridade é, para o homem de saber, aquilo que o outro mundo é para o homem religioso".
E todos ergueram suas taças ao futuro. Não, não se converteram à Ciência apenas para terem um novo método de conhecimento e investigação. É que acreditavam que a investigação e o conhecimento vinham grávidos de esperanças. E era por este filho prometido que se faziam brindes: o progresso da Ciência traria consigo a expansão da felicidade. E da bondade, é claro. O corpo tinha razões para se alegrar. Finalmente a dor seria conquistada e o prazer reinaria, supremo.
E é esta esperança que é ainda celebrada nos festivais da Ciência. Só que alguma coisa aconteceu. As esperanças abortaram, os deuses morreram. Ficariam os rituais, cascas de uma vida que se foi, como aquelas que as cigarras deixam, grudadas nos troncos das árvores. As liturgias preservam os risos do nascimento. E não nos damos conta de que a criança envelheceu antes do tempo e morreu. Já se sente o cheiro da decomposição. É hora de sepultamento... A promessa virou maldição, como no mito da queda; de alegria para o corpo, a Ciência transformou-se em sua tristeza. Ela é, hoje, o maior perigo para a sobrevivência da humanidade. É que a morte paga mais... Se juntarmos tudo de horrível que culturas pré-científicas produziram, nada se compara, em terror, à possibilidade de aniquilação da vida, como resultado do desenvolvimento científico da tecnologia da morte.
Chamarão minha atenção para os benefícios laterais. O que me faz lembrar o condenado à guilhotina que, perante a lâmina bela e eficaz, amaldiçoou aquele que a havia construído. Mas o carrasco o chamou de volta à razão, lembrando-lhe que suas lâminas de barbear haviam sido feitas com o mesmo aço. Reconheço os benefícios. Mas eles não me consolam, perante a lâmina. Preferiria que minha barba tivesse crescido... Ou alegarão que tudo não passa de um grande equívoco, culpa dos políticos e militares, gente de fora da Ciência. Mas a Ciência se entregou, meretriz sorridente, e no seu ventre/laboratório cresceram as armas bacteriológicas, químicas e atômicas...
Existe outra possibilidade que quase ninguém se atreve a mencionar. De que haja um erro na própria Ciência. De que ela não seja aquilo que dela sempre se disse. De que ela não seja aliada do corpo e do prazer não por acidente ou equívoco, mas por destino...
Exorcizar os fantasmas da morte e do sofrimento é o que se faz, sem cessar, nas liturgias da Ciência. Mas tudo continua na mesma. Continuamos a recitar a mesma Teologia... Conhecimento novo é sempre bom. Que ele se multiplique. Que as pesquisas avancem. Como se o problema estivesse em nossa falta de conhecimento: com um pouquinho mais as coisas se resolverão. Mas é bem provável que a verdade seja o oposto. Nossos problemas não decorrem de nossa falta de conhecimento mas antes do seu excesso.
Mas esta é a heresia das heresias. Afirmar tal coisa é entristecer as liturgias. Acontece que somos por demais devotos. Como o eram os sacerdotes de vestes pretas, quando seu fim se aproximava.
In: "Estórias de quem gosta de ensinar" - Coleção Questões da Nossa Época -
São Paulo: Cortez Editora, 1994, pp. 27 - 30
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SEREIA OU BALEIA?
(Texto que circulou pela Internet, no verão de 2007)
"Ontem vi um outdoor da Runner, com a foto de uma moça escultural de biquíni e a frase: ‘Neste verão, qual você quer ser? Sereia ou Baleia?’ Respondo:
Baleias sempre estão cercadas de amigos. Baleias têm vida sexual ativa, engravidam e têm filhotinhos fofos. Baleias amamentam. Baleias nadam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais como as banquisas de gelo da Antártida e os recifes de coral da Polinésia. Baleias têm amigos golfinhos. Baleias comem camarão à beça.
Baleias esguicham água e brincam muito. Baleias cantam muito bem e têm até CDs gravados. Baleias são enormes e quase não têm predadores naturais. Baleias são bem resolvidas, lindas e amadas.
Sereias não existem. Se existissem viveriam em crise existencial: sou um peixe ou um ser humano? Não têm filhos, pois matam os homens que se encantam com sua beleza. São lindas mas tristes e sempre solitárias...
Runner querida, prefiro ser baleia!"
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“As pessoas se unem por mil razões, até por amor. Raramente o fazem, porém, pela felicidade. Sendo amor não precisa ser feliz, pensam. Sendo profundo não precisa ser bom para ambos, supõem. Repito: amor não é bom quando é muito bom. Só é bom quando é mútuo bom”.
Arthur da Távola
Encontros 13 e 14 – Afonso Cláudio
05 de dezembro de 2009
MANHÃ – UNIDADE 23
Encontro difícil.
Choveu por toda a noite anterior em toda a região, e como todos moramos longe, tivemos dificuldades para chegar.
Com pouca gente e um tanto molhadas, iniciamos o encontro falando dos encaminhamentos das tarefas práticas nas escolas. Mas o clima era tenso por causa da chuva, o que se acentuava pelo fato de que de momento a momento chegava mais gente falando da quantidade de água pelo caminho.
Percebendo que eu devia me apressar, e sentindo a dispersão dos relatos, iniciamos logo uma produção de texto com a dinâmica “Advogado do diabo”: num envelope há várias figuras que foram partidas ao meio. Atrás de cada uma delas está escrito um tema polêmico – o mesmo tema nas duas metades. Entretanto, uma destas orienta: “defenda essa ideia”. A outra metade já diz: “defenda a ideia contrária”. As metades são distribuídas aleatoriamente, de forma que cada pessoa não saiba que tem um par. Depois de um tempo determinado para desenvolvimento do texto, cada um procura o colega que tem a outra metade de sua figura. Quando se encontram os dois trocam de textos entre si e, mantendo seu posicionamento inicial, vão responder ao texto um do outro, contra-argumentando. Num terceiro momento, os textos voltam a seus autores para que estes avaliem se seus colegas foram capazes de apresentar contra-argumentos sólidos.
O trabalho foi positivo, houve boa participação dos cursistas para escrever. Mas já íamos para o terceiro momento, e ainda havia gente chegando... E cada pessoa que chegava trazia consigo notícias preocupantes sobre as chuvas.
Estava prevista para esta data uma pequena confraternização de fim de ano, e nós inclusive havíamos nos cotizado para comprar uma torta salgada e refrigerantes. Mas no clima tenso e molhado em que nos encontrávamos, o grupo propôs que não fizéssemos o intervalo da manhã, antecipássemos a torta para o horário do almoço e ficássemos ali mesmo, começando o período da tarde mais cedo e indo embora por volta das 14 horas.
Foi, sinceramente, uma proposta até razoável diante da inundação iminente – o que me convenceu do comprometimento do grupo com que eu estava tendo a honra de estudar.
Terminada a elaboração dos textos argumentativos, então, fizemos um estudo teórico do TP 6 (páginas 129, 137 e 145) em grupo, com subsequente socialização, e paramos para um rápido almoço, com desejos de bom fim de ano e de águas calmas para aquele resto de dia.
TARDE – UNIDADE 24
Para motivar a discussão sobre literatura para adolescentes, propus que realizássemos a interessante atividade da seção 3, a partir da página 192, individualmente. Depois, cada qual apresentou suas posições, que foram discutidas e comparadas com as dos demais.
Às 13: 40h eu apresentei outros tópicos que aprofundaríamos neste dia e nos despedimos, esperando um reencontro com boas notícias no ano seguinte.
As chuvas continuaram pelo restante do dia, dificultando o trajeto de volta e enchendo meu peito de apreensão. Como as professoras encontrariam seus lares ao chegarem em casa?
No dia seguinte, apenas, por e-mail, tive notícias de algumas. Houve inundação, transtornos e perdas materiais. Mas graças a Deus sem perdas humanas.
A água é um mistério, como a própria vida. Carrega em si o paradoxo da dualidade, como tudo o que constitui este verdejante planeta. Mansa, ela possibilita a vida. Mas que poder de destruição tem, quando se ergue imponente!
Que todos os que conheceram esta sua segunda face tenham condições de se refazer em tempo de celebrar o Natal de Jesus, que se aproxima. E que esta mesma celebração nos preencha a todos de vida nova e desejosa de mais e mais aprender.
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Elisa,
Como terminou o seu dia de ontem? Fiquei muito preocupada com você, devido à situação das estradas por causa da chuva. A minha cidade ficou toda inundada, não tive como chegar na minha casa, precisei dormir na casa da minha amiga Regina. Foi tudo muito triste. Têm 1.000 pessoas desabrigadas aqui, estamos todos apavorados.
Mande-me notícias.
(06/12/2009)
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Encontros 15 e 16 – Afonso Cláudio
20 de março de 2010
MANHÃ – UNIDADES 01 E 02
Que saudade! Desde dezembro não nos víamos e eu queria muito saber as novidades, quem havia mudado de série, de escola.
Inspirados pela canção de Gilberto Gil – Andar com fé – iniciamos nosso encontro, justamente contando como nos encontrávamos, inclusive em relação aos estudos que havíamos interrompido.
O texto seguinte que guiou nossa reflexão foi “Eu ensinei a todos eles” – sempre um bom lembrete de que corremos o risco de nos tornarmos inúteis para a vida dos jovens com quem trabalhamos. De qualquer forma, sempre deixamos algum tipo de marca nas pessoas com quem nos encontramos. E é bom manter-nos alertas.
Dessa forma, para darmos início ao estudo das variantes linguísticas e o consequente questionamento do que seja erro, fizemos a divertida atividade de reescrever alguns avisos ambíguos, afixados em uma paróquia portuguesa, retirando-lhes, é claro, a ambiguidade.
Depois de alguns minutos, com a tarefa pronta, lemos juntos os textos “Babel é aqui” e “Gírias” – de Ormezinda Maria Ribeiro. Conversamos longamente sobre nossa posição diante da norma padrão, e o papel da escola ante as demais variedades e lemos no TP1 as considerações sobre o conceito de “dialeto”.
Em seguida nos dividimos em pequenos grupos para estudar os textos propostos no TP1, às páginas 44 a 47 e 123 a 125. Depois do tempo destinado ao estudo e do intervalo, socializamos nossas conclusões e partimos para a leitura projetada de dois divertidos textos – um que apresenta a definição de rapadura, de acordo com o grau de instrução de quem fala; e outro que narra as confusões em que se meteu um rapaz da cidade, o Alfredão, ao escrever ao senhor que lhe deu socorro mecânico, um dia no interior.
Os comentários sobre os textos foram muito ricos, e encerraram nossa parte da manhã.
TARDE – UNIDADES 3 E 4
Quando voltamos do almoço, assistimos ao vídeo “Como o brasileiro elogia uma mulher” e partimos para a leitura de algumas imagens ambíguas – exercício extremamente prazeroso, pela curiosidade que desperta em todos, e que deu início às discussões do conceito de intertextualidade. O texto “Outras vidas” foi muito enriquecedor nesse sentido, pela alusão que faz a textos que muitos de nós já conhecíamos.
Depois de revisar todos os tipos de intertextualidade, e tendo em mente a ideia de que nem tudo é o que parece, iniciarmos a leitura de “Feio, o gato” – que emocionou a maior parte de nós. A reflexão foi muito proveitosa, relacionada aos tantos alunos presentes em nossas escolas, e que não são o que se espera deles.
Em seguida, divididos em oito grupos, demos início a uma interessante produção: quatro grupos deveriam escolher uma fábula e fazer uma paródia dela, com alusão a um tema da atualidade. Os outros quatro trabalhariam com uma história clássica infantil, fazendo alusão a outras histórias dentro do enredo principal.
Antes de apresentarmos os resultados de nossas produções, divertimo-nos um pouco com tirinhas da turma da Mônica, e com o Hino Nacional Brasileiro composto por marcas, para lembrar como o conhecimento prévio é necessário para que se percebam as marcas de intertextualidade.
As paródias e alusões foram interessantíssimas. No final das apresentações lemos em projeção a linda história “O Carteiro Chegou”, de Janet e Allan Ahlberg e, depois da avaliação do encontro, nos despedimos.
Encontros 17 e 18 – Afonso Cláudio
24 de abril de 2010
MANHÃ – UNIDADE 05
Iniciamos o dia com o relato dos cursistas sobre seus projetos e experiências. Em seguida, como retomada do que tratamos no mês anterior, lemos “Uma história louclássica”, de Maurício de Sousa, cheia de referências a compositores clássicos. Foi divertido, embora muitas professoras não conhecessem os autores citados e, portanto, não percebessem a intertextualidade.
Durante a leitura em pequenos grupos do texto “Na gramática da escola cidadã”, procedemos à orientação de alguns projetos que não conseguiram ser enviados por e-mail.
Terminada a leitura, o texto foi amplamente discutido, tocando especialmente no papel do ensino de gramática nas escolas. E para ilustrar a farsa da igualdade dos cidadãos perante a lei, lemos juntos o texto de Luis Fernando Verissimo, “Ladrão de Galinhas”. Assim, a produção seguinte foi justamente o planejamento de uma aula de gramática. O tempo para esse trabalho incluiu o pequeno intervalo para o café, depois do qual partimos para as apresentações.
Para finalizar esse tema, cada participante redigiu um parágrafo com suas considerações sobre o ensino de gramática.
Como os relógios já marcavam 11:45h, saímos para o almoço.
TARDE – UNIDADE 06
Para iniciar a parte da tarde, lemos juntos o divertido texto elaborado por uma aluna da UFPE, sobre o encontro entre um substantivo e um artigo.
Após os comentários, e para espantar com o riso a preguiça de depois do almoço, assistimos à apresentação do grupo “Os melhores do mundo”, com a cena do assaltante que elimina um refém a cada “erro” de português cometido pelos policiais.
Depois das risadas, voltamos ao trabalho realizando algumas atividades do AAA2. Começamos com um jogo de palavras, exercitamos a entonação de nossa voz com o poema de Manuel Bandeira (Balada do rei das sereias), demos sentido a frases sem pontuação. Fizemos tais atividades, claro, uma por vez, esperando até que todos conseguissem atingir as metas e, ao final, tecemos nossas considerações sobre as várias maneiras de se organizar um período.
O vídeo Vida Maria foi nosso próximo texto. Emocionados conversamos sobre as possibilidades de Maria, suas chances de superação e o que temos em comum com ela. Em contraposição, visitamos “A moça tecelã”, de Marina Colasanti, e deciframos suas estratégias de libertação – uma conversa que acabou nos conduzindo a outro texto de desencontros: “O caso do vestido”, de Drummond.
Embebidos de poesia, fizemos a avaliação deste dia e nos despedimos.
Encontros 19 e 20 – Afonso Cláudio
22 de maio de 2010
MANHÃ – UNIDADES 07 e 08
Nosso último dia começou com muitas dúvidas sobre a forma de apresentação dos projetos.
Apesar de toda a orientação ao longo do curso e das diversas consultas que fizemos à página 51 do Guia Geral, foram muitos os projetos apresentados com outros formatos. Passei os primeiros momentos da manhã, portanto, verificando o material de alguns cursistas, enquanto esperávamos a chegada de todos.
Quando os trabalhos se iniciaram, nós retomamos o último assunto tratado no encontro anterior, a organização do período, e aproveitamos para conversar um pouco mais sobre revisão textual.
Eu sentia que a necessidade da revisão para quem produz textos não era uma convicção para todos os participantes. Neste momento, então, ilustramos o uso do código de revisão textual, em grupo, pelos alunos e não só pelo(a) professor(a). Apresentei também parte do artigo de Stephen Kanitz, articulista da Revista Veja:
“Reescrevo cada artigo, em média, 40 vezes. Releio 40 vezes, seria a frase mais correta porque na maioria das vezes só mudo uma ou outra palavra, troco a ordem de um parágrafo ou elimino uma frase, processo que leva praticamente um mês.
Ninguém tem coragem de cortar tudo o que tem de ser cortado numa única passada. Parece tudo tão perfeito, tudo tão essencial. Por isto, os cortes são feitos aos poucos.
Depois tem a leitura para cuidar das vírgulas, do estilo, da concordância, das palavras repetidas e assim por diante.”
A conversa foi se encaminhando para os artistas. Eles fazem revisão? Então contei o depoimento que ouvi de Lygia Fagundes Teles sobre seu trabalho de criação; falei do livro de Lygia Bojunga – fazendo Ana Paz – uma verdadeira “metaconstrução” de um personagem; e lembrei o depoimento de Ziraldo, no final do livro “Menina Nina”, sobre o quanto ele contou com a opinião de amigos sobre o livro, enquanto ainda o escrevia. Se eles trabalham com arte, tem na escrita a sua profissão, e precisam do olhar de outrem, por que não os estudantes?
E assim, já que falávamos de arte literária, demos início às reflexões do papel da arte em nossa vida e em nosso trabalho pedagógico.
Para aguçar nossa sensibilidade, assistimos a dois espetáculos da “China Disabled People's Performing Art Troupe”, companhia que integra um elenco com cerca de 80 jovens artistas chineses deficientes. O primeiro vídeo foi “Hand in hand”, com apenas um casal de bailarinos – ela sem um braço e ele sem uma perna. O segundo foi “Thousand-hand Guan Yin”, com um grande grupo de bailarinos surdos.
Depois dos emocionados comentários, lemos os casos apresentados no TP 2 (p. 77) e eu pedi exemplos de aspectos filosóficos presentes nas obras clássicas literárias. Após o prazer dessas lembranças, cada cursista redigiu pra mim um pequeno texto sobre a importância da arte em sua própria vida. Durante esse momento de escrita, fui exibindo bem vagarosamente alguns slides de pintura clássica.
E assim, à medida que foram terminando seus textos, os cursistas foram saindo para o almoço.
TARDE – AVALIAÇÃO
Passava das 13 horas quando, para dar início à nossa oficina de avaliação, recitei “Mãos dadas”, de Carlos Drummond de Andrade e lhes falei de toda a satisfação que tive em trabalhar com aquele grupo.
Dividi nossa avaliação em duas dimensões: o crescimento pessoal que o Gestar lhes tenha proporcionado; e o impacto do programa nas escolas.
Para a primeira dimensão, cada qual completaria, numa folha, as frases:
a) Que bom que .............................
b) Que pena que ............................
c) Que tal se .................................
Para a segunda dimensão, em outra folha, cada um deveria enumerar 5 substantivos concretos que representassem o impacto do Gestar em sua escola. Num segundo momento, todos deveriam trocar de folha com um colega, para interpretar as metáforas uns dos outros. Depois disso, cada um pegaria de volta sua folha para confirmar, negar ou complementar a interpretação que seu colega fez.
A Secretaria de Educação também formulou um questionário de avaliação, que foi respondido pelos cursistas.
E quando todos terminaram, dirigimo-nos para o refeitório da escola que, transformado em auditório, acolheu nosso encerramento e a entrega dos certificados. Despedimo-nos cantando, depois de “Navega Coração”, (Kleyton e Kledir), o hino do Gestar Capixaba – a música “Semente”, paródia de “Aquarela” (Toquinho e Vinicius).
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