terça-feira, 15 de dezembro de 2009
LITERATURA NA ESCOLA BÁSICA
O QUE PENSO ENQUANTO LEIO - LITERATURA NA ESCOLA BÁSICA
Professora Elisa Alves
"Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista."
Marisa Lajolo
INTRODUÇÃO
A leitura pode ser uma das atividades mais prazerosas da escola, embora enfrentemos aí um problema cultural. Afinal, a moda é fazer sempre o mais fácil e isto a leitura, decididamente, não é pois, além do esforço da decodificação dos signos linguísticos, há ainda, muitas vezes, a necessidade de se usar a imaginação, de se perceber as emoções dos personagens e as intenções dos escritores.
O que dá prazer é sentir-se dialogando com quem escreveu. E nesse sentido, quem lê é também um pouco autor. Suas ideias entram em acordo ou em desacordo com as do autor, e os dois se sintonizam ou entram em debate, silenciosamente, no momento íntimo e livre da leitura.
Sim, livre. Este é outro aspecto ligado ao prazer. Por mais que nossa história nos lembre das provas que fizemos sobre os livros que lemos, todos sabemos que pudemos – e podemos – decidir como, quando e o quanto ler. Bem, e talvez não seja muito bonito admitir mas, muitos de nós fugimos de muitos livros recomendados por nossos professores. Pois é. Por mais que tentem – ou que tentemos – prender e controlar, há uma grande margem de liberdade na leitura. Uma liberdade que nos dá o poder da escolha.
Estas são as ideias centrais deste projeto.
Os estudantes devem poder escolher o que querem ler, e não há nada mais importante a dizer do que o que sentem e pensam enquanto leem.
Não é fácil, todos sabemos. No início, os alunos sentem-se desestimulados, devido à sua própria história escolar; não identificam o que há de tão bom em textos não tão fáceis de se ler. Mas eles são os educandos. O professor não se deve deixar influenciar pelo possível desânimo das turmas. Pelo contrário, usando os mais variados textos, deve mostrar-se empolgado com as descobertas que a leitura proporciona (inclusive as que ele faz extra-classe) e não, como geralmente acontece, reforçar o comportamento negativo dos alunos com mau humor e exasperação.
Será preciso, portanto, que os professores busquem desenvolver em si mesmos o gosto e a habilidade de leitura pois, do contrário, como ajudarão seus alunos a adquirirem o que eles próprios não têm? (CUNHA, 1985) Além do mais, uma nova visão de leitura na escola pode promover uma nova relação entre professor e aluno, já que a palavra deste passa a ter valor, ou seja, a sua interpretação é tão correta quanto qualquer outra e o diálogo pode, enfim, existir, visto que o professor deixa de ser o que está sempre correto e, portanto, o que detém a exclusividade da palavra final (ZILBERMAN, 1988).
OBJETIVO GERAL:
Desenvolver na escola básica uma estratégia para incentivo à leitura do aluno, em que ele leia de acordo com o que goste e seja livre para dizer o que sente e pensa sobre o que leu.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Tendo em vista que cada estudante tem uma realidade diferente, espera-se que cada um deles possa:
• Ler um livro por mês.
* Um mês para análise, outro mês para comentário livre.
• Escolher seus livros pelo critério de gosto pessoal.
• Ser sincero e honesto em seus comentários.
JUSTIFICATIVA
É nosso dever ajudar nossos alunos a descobrir o caminho, o prazer e a necessidade da leitura. Mas é preciso admitir que é realmente difícil gostar de ler quando essa atividade é sempre realizada com vistas à realização de provas, ao acúmulo de pontos para aprovação, ou com atividades pouco atrativas e menos ainda significativas. O estudo da Literatura na escola tem sido uma grande preocupação dos teóricos há muito tempo. Ainda se pensa que estudar Literatura seja o mesmo que estudar História da Literatura; que trabalhar uma obra literária na escola seja identificar os elementos da narrativa tempo, espaço, personagens, foco narrativo e enredo e as características do estilo de época em que a obra é enquadrada e que, aliás, estão todas descritas no livro didático, para, em seguida, fazer uma prova sobre o livro; no ensino fundamental privilegiam-se os fragmentos e a leitura para compreensão e estruturação; no ensino médio pretende-se ensinar quatro séculos de literatura a quem não leu quase nada e apresenta vários interesses (SOARES, 1981). Assim, como a regra é “se dar bem”, os estudantes “enrolam”, procuram os resumos das obras ou alguém que as tenha lido e que lhes conte o enredo para, dessa forma, serem aprovados, enquanto o professor procura obrigá-los a ler, culpando-os, sem perceber que a organização do trabalho pedagógico é que os afasta da leitura.
É essa organização que faz com que aquilo que cada estudante teria a dizer sobre o que leu perca totalmente a importância. O que ele deve fazer é utilizar as ideias e por que não? as palavras dos autores que elaboraram a interpretação “correta” (GERALDI, 1996). Apesar de todos eles possuírem a habilidade de decodificação dos textos, esse tipo de atividade impede que se tornem leitores. O trabalho do leitor é ajudar a construir o texto com suas vivências; ele é que dá vida e significado às ideias da obra especialmente da obra literária (ZILBERMAN, 1988). O “texto sozinho (...) não é responsável pelas significações que faz emergir” (GERALDI, 1996). Leitura é interação. Como interlocutor do texto lido, o leitor entra em contato com outras formas de compreensão do mundo e, confrontando-as com sua própria visão, aprimora a sua maneira de exprimir o que compreende e alarga cada vez mais suas possibilidades de uso da língua (GERALDI, 1987).
Assim, a leitura na escola deve ser uma atividade rica, com os mais variados tipos de textos (SOARES, 1981), que favoreçam a intimidade do aluno com a modalidade escrita da língua, visando a torná-lo um leitor maduro, com compreensão cada vez mais profunda do que lê (LAJOLO, 1988). O próprio conceito de texto, inclusive, é algo bem amplo, hoje, com a complementação dos meios de comunicação audiovisual (SOARES, 1981). Mas é preciso que eles percebam o objetivo das atividades que desenvolvem, ao invés de se sentirem saturados e perdendo seu tempo. Às vezes, fica tão claro que o professor só ordena a realização de determinada atividade por descargo de consciência, que os alunos acabam dando um jeito de fingir que trabalham. Além do mais, é preciso evoluir na leitura, ou seja, à medida que crescem, a densidade e a complexidade dos livros devem aumentar. Muito mais que compreender, é preciso ajudá-los a interpretar e analisar o que leem, de forma que consigam ler as entrelinhas dos textos, ou seja, as mensagens subentendidas. Um bom tempo deve ser dedicado à exploração dos livros pela turma, para que falem, critiquem, discordem, concordem e o professor deve estar atento aos aspectos abordados para que também ajude a turma a perceber o que não viu sozinha. E isso não se restringe a livros, especificamente, mas estende-se a qualquer tipo de texto que ofereça uma boa margem de interpretação. As fichas literárias e questionários devem ser evitados, na medida em que limitam a interpretação do aluno, de acordo com a do professor (ou da editora). O aluno deve expor livre e claramente oralmente ou por escrito suas impressões acerca do que leu, e ser avaliado com o intuito de ser ajudado a ir mais fundo a cada leitura. Enfim, como a leitura serve para educar, informar e também divertir, é preciso encontrar mecanismos que permitam flexibilizar a definição dos títulos de livros, de modo que o aluno tenha uma margem de escolha e não seja sempre obrigado a ler a indicação do professor.
O acompanhamento da evolução de cada aluno na compreensão e análise da leitura pode ser feito por meio de discussões em sala sobre os livros lidos e da elaboração periódica de trabalhos dissertativos, que o professor lê não apenas para dar uma nota, mas com a indicação das deficiências a serem superadas.
DESENVOLVIMENTO
1. Os alunos devem ler um livro por mês. E devem começar a ler logo no início do mês, para terem tempo hábil de trocá-lo, caso não gostem dele. Ninguém deve ler aquilo de que não gosta.
2. No primeiro mês, qualquer livro, inclusive os bem pequenos. O trabalho é apenas comentar o que achou, o que aprendeu com o livro. E é proibido fazer o resumo, ou seja, contar a história. Dizemos que, se queremos saber a história, nós mesmos pegamos o livro para ler. O que queremos saber realmente é o que cada um pensa e sente. Os que quiserem podem substituir o trabalho escrito por uma apresentação oral, um cartaz, etc., seguindo sua criatividade.
3. No segundo mês, o livro deve ter, no mínimo, 50 páginas, e gerar um trabalho de análise sob o título “O que penso enquanto leio”. O trabalho tem, pelo menos, duas partes:
a) Garimpagem – depois que o aluno decidiu que vai dar prosseguimento à leitura daquele livro (porque gostou dele), à medida que vai lendo deve retirar todos os trechos que:
a.1) lhe sirvam de alguma lição de vida;
a.2) considere bonito, tenha uma linguagem especial.
No caso de a.1, o aluno deve explicar qual é a lição que ele identificou, ou seja, por que o referido trecho lhe serve de lição.
No segundo caso (a.2), não há nada a dizer. Beleza é uma questão muito subjetiva e não precisa ser explicada.
b) Aprendizagem – terminada a leitura, findo o livro, o aluno escreve um texto em que apresenta qual foi sua aprendizagem central com ele. Em outras palavras, de todas as ideias, qual lhe chamou mais a atenção.
c) Algo mais – pode ser que o aluno ainda não tenha dito tudo o que quis. Se for o caso, o trabalho terá então esta terceira parte. Em forma de texto, o aluno expõe o que ainda não teve oportunidade de dizer nas partes anteriores.
4. A partir daqui, os tipos de trabalho vão-se revezando, mês a mês. E o professor deve recomendar aos alunos, nos meses em que o trabalho é livre, que evitem livros tão pequenos que possam ser lidos em 30 minutos. Sem rispidez, e até com bom humor, ele deve lembrar-lhes: se você vai ter o trabalho de ler, escolha algo legal, não muito grande, e que lhe faça crescer de alguma forma.
REFERÊNCIAS
CUNHA, C. A Questão da Norma Culta Brasileira. Rio: Tempo Brasileiro, 1985.
GERALDI, J. W. (org.). O Texto na Sala de Aula: Leitura e Produção. Cascavel: Assoeste, 1987.
GERALDI, J. W. Linguagem e Ensino: Exercícios de Militância e Divulgação. Campinas: Mercado de Letras, 1996.
LAJOLO, Marisa. “O texto não é pretexto”. In: ZILBERMAN, R. (org.). Leitura em Crise na Escola: as Alternativas do Professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
SOARES, M. O Ensino da Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no 2o Grau. Brasília: Secretaria de Educação, 1981.
ZILBERMAN, R. (org.). Leitura em Crise na Escola: as Alternativas do Professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
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