domingo, 13 de dezembro de 2009
Memorial de Michele de Souza
A Professora das Bonecas
Quando eu era criança tinha muita dificuldade para aprender as matérias na escola. Minha mãe colocava-me para estudar todos os dias um pouco assim que eu chegava da escola e somente após realizar essa tarefa eu podia sair para brincar com as meninas na rua.
E assim eu fazia.
Chegava da escola, almoçava, ou fingia que almoçava, depois ia para o quarto estudar para logo poder sair para brincar.
No quarto, como era meio chato, ou completamente chato estudar, colocava as bonecas que eu tinha em cima da cama de minha mãe, já que dormíamos juntas no mesmo quarto, e começava a ministrar aulas para elas. Tudo o que eu tinha registrado em meus cadernos da escola eu repetia várias vezes a elas para que gravassem e, ao final, eu mesma ia entendendo o que achava não ter assimilado na escola pelos meus professores...
Desde essa época comecei a pensar em ser professora idealizar ensinar às crianças, não mais às bonecas...
No segundo grau, cursando o Magistério (1993 a 1995) comecei a ter um pouco mais de dificuldade em ralação a produção textual e leitura, uma vez que ambas haviam sido muito falhas, hoje em minha análise como professora de Literatura e Língua Portuguesa. Luciléia Célia Belisário fora minha professora de Didática da Língua Portuguesa, Didática da Matemática, Filosofia, Psicologia. “Uma Fera”!
Leitora, crítica, inteligente, muito bem informada, exigente e que começou a direcionar minhas produções, ou seja, mostrar-me como se produzia textos. Apaixonei-me: 1º porque não tinha esse “dom de produção” (se assim posso chamar) e 2º porque eu não era ainda contagiada pela leitura e percebi que eu poderia crescer muito... Convivemos hoje como colegas de trabalho.
Até aqui tudo bem . Meu sonho parecia ser bem legal.
Minha mãe me incentivava, mas também dizia-me que se que quisesse poderia fazer o curso de Direito, que sempre fora o sonho dela, mas que não teve oportunidade de concretizar.
Decidida prestei vestibular na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Madre Gertrudes de São José” em 1995. Optei pelo curso de Letras/Literatura, já que no meu primeiro e segundo graus eu havia sido uma negação em ambas disciplinas, sem contar a de História - que mais tarde eu me apaixonaria.
Na faculdade enfrentei desafios como a não credibilidade de pontencial por parte de alguns professores, a dificuldade em relação aos conteúdos básicos da minha atual disciplina entre tantos outros que uma jovem universitária possa enfrentar.
Apaixonei-me metaforicamente pela minha querida, até hoje, Professora de Literatura Brasileira Beatriz Fraga – atualmente Beatriz Fraga Soares, que por ventura a encontrei recentemente na Bienal do Livro em Vitória no último dia 12, onde ganhei um abraço cheiroso e bem apertado, como os dos velhos tempos.
Lá eu me realiza naquelas aulas de Literatura e História que ela ministrava as noites naquele calor de Cachoeiro. Viajava de um século a outro, conhecia, revivia, sentia, apreciava e desenvolvia cada vez mais a leitura em meu ser. Era magnífico para mim. Lembro-me até hoje que na época eu lia muito Paulo Coelho - tenho a coleção completa ainda - e vivia tentando convencê-la de que aquela não era uma literatura fútil como muitos pensavam... E um dia em um trabalho proposto por ela enxertei Coelho do início ao fim... e para minha surpresa quando fui chamada em sua mesa, meu coração petrificou. Não imaginava o que poderia acontecer naquele exato instante...Tudo que eu não havia imaginado aconteceu... Nota 10.0 e a aceitação de tal ilustre Professora com os meus pensamentos. Ai não deu outra: comprei um livro e a presenteei.
Atualmente com 31 anos muita coisa mudou em mim, principalmente o corpo que já não é mais o mesmo, algumas partes melhores e outras piores – só para descontrair da leitura exagerada deste texto longínquo, mas o gosto por aquela Literatura permaneceu e enquanto eu existir permanecerá em minhas aulas nas escolas dessa vida linda que tenho pela frente. Faço hoje como se ainda estivesse aprendendo tudo com o mesmo, ou até maior, entusiasmo de conhecer, reviver, sentir, apreciar e transmitir aos alunos o tão magnífico gosto pela Literatura Brasileira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário